“Compre como um bilionário”. Com esse slogan e um investimento em seis inserções comerciais de 30 segundos no intervalo do Super Bowl, a Temu, lançada em 2022, iniciou uma jornada de crescimento junto ao público americano que levou o aplicativo, de origem chinesa, a ser o mais baixado do setor de e-commerce dos Estados Unidos em novembro do mesmo ano.
Muitos especialistas do mercado chamam o Temu de “Amazon com anabolizantes”, mas, na realidade, o aplicativo tem se mostrado um rival não apenas para a empresa de Jeff Bezos, como também para a Shein e a Shopee, marketplaces globais mais bem estabelecidos. E há a expectativa de que a Temu chegue ao Brasil ainda em 2024.
Conheça agora o que é a Temu, como funciona seu modelo de negócio e como a empresa está redefinindo o que conhecemos como varejo online.
A Temu – pronuncia-se “tee-moo” – é uma empresa chinesa de varejo online pertencente ao Grupo Pinduoduo. O aplicativo é um misto de Shein com Shopee, apostando na venda de uma grande variedade de itens, de artigos de vestuário a eletrônicos e móveis.
O modelo central de negócio segue o conceito de marketplace conforme já conhecemos: uma plataforma que une lojistas e consumidores.
O grande diferencial da plataforma nos mercados em que ela já atua, como os Estados Unidos, são os preços ultra competitivos praticados, o que chamou a atenção de nada menos do que 152 milhões de consumidores americanos, segundo dados da plataforma de análise Similar Web.
Em setembro de 2023, para se ter uma ideia, a Temu movimentou o dobro, em vendas, se comparada à Shein.
Parte do sucesso da Temu em conseguir vender itens a preços baixíssimos está ligada ao Grupo chinês Pinduoduo, do qual faz parte. Esse é um dos maiores grupos comerciais da China, que estabeleceu uma ampla rede de fornecedores ao longo dos anos, permitindo que a plataforma tenha acesso a milhares de produtos por preços considerados muito baixos para os padrões ocidentais.
O sucesso de vendas da plataforma se explica não apenas pela sua política de preços agressiva ou pela sua estratégia de marketing, mas também por um momento de crise global em que conflitos em diversas regiões do mundo, somado a instabilidades políticas e as mudanças climáticas geram uma crise de inflação que eleva o custo de vida em quase todas as regiões do planeta.
Nesse cenário, preço passa a ser um fator preponderante na decisão de compra, quando não se torna o mais importante. E, no comparativo, a Temu chega a vender itens com preços até 70% menores do que concorrentes como a Amazon.
Inicialmente, o impacto causado pela Temu se concentrou em um super evento que atrai a atenção de mais de 100 milhões de americanos: a final do Super Bowl, a principal liga de futebol americano dos Estados Unidos.
Com seis comerciais veiculados nos intervalos do evento pela tv, a empresa fez um investimento de cerca de US$ 35 milhões para impactar milhões de potenciais consumidores, calcada em um slogan nem um pouco discreto: “compre como um bilionário”.
Isso rapidamente atraiu a atenção dos consumidores, enquanto a empresa também trabalhava em uma estratégia de micromarketing com forte presença digital, envolvendo influenciadores que recomendam produtos e compras da Temu nas redes sociais.
A plataforma também analisa tendências de consumo, produtos mais pesquisados e clicados e oferece esses dados aos lojistas, o que ajuda a traçar estratégias e pode elevar ainda mais as vendas.
Apesar de constantemente comparadas, Temu e Shein operam de forma consideravelmente diferentes.
Enquanto a Temu opera como um marketplace, uma intermediária que conecta consumidores diretamente aos vendedores de diversos tipos de produtos, a Shein atua sob sua marca própria e é focada no setor do vestuário.
Apesar do grande impacto e do aparente sucesso alcançado ao longo do período de atuação nos Estados Unidos, o mercado começa a ter dúvidas sobre a viabilidade da Temu a longo prazo.
Para se ter uma ideia de como a operação da plataforma é complexa e desafiadora, ela oferece praticamente de tudo: itens de moda, utensílios de cozinha, eletrônicos, móveis, a preços consideravelmente mais baixos do que as concorrentes, com frete grátis, sem pedido mínimo.
Isso já levou o mercado a se debruçar sobre os números da Temu, que revelam que a empresa opera com um prejuízo operacional de US$ 3,65 bilhões, mesmo com vendas globais estimadas em US$ 13 bilhões.
Para se ter uma ideia, a Shein, que já se expandiu globalmente e tem maior presença em diversas regiões do mundo, reportou US$ 22,7 bilhões em vendas em 2022, com rentabilidade recorde no primeiro semestre, estimam analistas.
Os números predominantemente positivos alcançados pela companhia podem também esconder preocupações ambientais que também já se direcionavam à Shein, com contestações a respeito do impacto ambiental causado pela moda descartável.
Em meio a todo esse buzz causado nos Estados Unidos, o mercado espera que a Temu, que está em franca expansão, chegue ao Brasil em 2024. Na verdade, já havia expectativa pela chegada da gigante de vendas ainda em 2023, o que não se concretizou.
Porém, apesar dessa expectativa, a Temu, de forma oficial, ainda não se pronunciou sobre intenções ou datas para sua estreia no mercado brasileiro. E vale lembrar que também há uma curiosidade no mercado para saber como a empresa chinesa vai sair em meio ao cenário tributário complexo brasileiro e se ela vai conseguir manter o seu espírito de vendas por um preço baixíssimo no país.
Como todo esse contexto, todo o mercado de vendas online brasileiro deve monitorar o modelo de negócio da Temu e se preparar para a chegada de mais uma forte concorrente ao desafiador universo do e-commerce.
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